Por dr. Assad Frangieh
A 12ª sessão do Parlamento libanês não conseguiu eleger um Presidente da República. Pela constituinte libanesa é preciso dois terços de presença dos 128 deputados e 86 votos para que a eleição seja decidida no primeiro turno. Caso contrário, é preciso 86 deputados na segunda votação e 65 votos (50+1) dos parlamentares para efetivar o nome do mais votado. Nesta primeira sessão do Parlamento, o resultado foi 51 votos para Suleiman Frangieh, 59 votos para Jihad Azoour, 6 votos para Ziad Baroud, 8 votos para “Líbano Novo”, 1 voto anulado para Jihad Al Arab, 1 voto para Joseph Aoun, e 1 voto em branco. Não houve a segunda sessão como esperado em razão de falta de quórum, uma manifestação que muitos parlamentares do Líbano, de todas as tendências, usam esta prorrogativa para impedir algum procedimento parlamentar ou aprovação de uma determinada lei contrária aos seus interesses. Isso se aplica à eleição presidencial. É o poder de impedimento.
JIhad Azoour (esq) e Suleiman Frangieh – foto da Reuters.
Nos últimos meses, houve uma forte campanha de apoio a Jihad Azoour, funcionário de licença do departamento do Oriente Médio do Fundo Monetário Internacional. Jihad Azoour foi Ministro das Finanças no Governo de Premiê Fouad Al-Seniora. Segundo seus principais apoiadores, o Movimento Patriótico Livre de Gibran Bassil, as Forças Libanesas de Samir Geagea, as Falanges Libanesas de Sami Al Gemayel e parte do grupo de deputados da Mudança, Jihad Azoour representa um candidato apelidado de “candidato da Encruzelhada”. Em outros termos, não representa o programa político de nenhum dos partidos que o apoiam, porém constitui um nome para concorrer contra Suleiman Frangieh, candidato do Amal e Hezbollah, representando a maioria xiita libanesa, outros candidatos sunitas independentes e havendo o apoio de 12 cristãos dos 65 deputados. A oposição esperava um total de 67 a 70 votos para Jihad Azoour afim de declará-lo virtual presidente da república mas apenas conseguiu 59 votos. Esperava-se 40 votos para Suleiman Frangieh e ele acabou recebendo 51 votos.
A coordenação da candidatura de Jihad Azoour ficou sob a aba norte americana e sua vitória teria sido um cerco adicional às forças que apoiam o eixo de Resistência representados essencialmente pelo Hezbollah no Líbano. A presença de Suleiman Frangieh, do lado oposto, um candidato maronita com discurso anti-sectarista, aberto ao entendimento com a Síria e os países do Golfo, pela aproximação da Arábia Saudita com o Irã e apoiado pelos franceses por seu pragmatismo político, acabou se mostrando consolidado pela sua base de apoio enquanto blocos como do Walid Jumblatt que apoiou Jihad Azoour já manifestaram o fim de apoio e apelam para um novo diálogo nacional.
Numa análise política das chances de ambos os candidatos, parece mais fácil o Suleiman Frangieh ampliar sua base de apoio em razão de seu histórico político, suas relações públicas e o clima internacional e regional que hoje está sendo ditado pela Arábia Saudita em sua nova política de Zero Problemas pra tornar o Oriente Médio, a nova Europa do leste. Parece ser exatamente esse tom apresentado na reunião (hoje 17/06/2023) entre o Emir Herdeiro Mohamad Ben Sultan em seu encontro em Paris com o Presidente Emanuel Macron. Uma solução global para o Líbano num pacote que envolve o Presidente da República, um Premiê Ministro, um Governador do Banco Central e um Comandante do Exército. Nisso, parece que Suleiman Frangieh está bem mais próximo e a grande surpresa… pode ser o retorno de Saad Hariri ao cenário da política libanesa.
No momento, o diálogo parece que será a demanda de todas as partes no Líbano e enquanto se curte o verão libanês, é bom esperamos como sempre, sentados.