A União Libanesa da Diáspora é uma Associação Brasileira que agrega líderes e membros da Comunidade Libanesa no Brasil com sede em São Paulo.

A fascinante história do vinho libanês

Além de ser descendente de libaneses e extremamente arraigado a minha herança cultural, sou enófilo e consumidor apaixonado por vinhos.

Qual não foi minha alegria ao ter a oportunidade de poder falar um pouco do universo do vinho libanês que, apesar de pouco conhecido, até mesmo dentro de nossa comunidade libanesa, é de suma importância para a história vinífera mundial.

Apesar de sinais de sementes de uvas terem sido encontradas em escavações em Biblos no período da Idade da Pedra, a história da produção de vinho no Líbano remonta à época dos fenícios, cerca de 4000 a.C. Os fenícios foram os responsáveis por fundar as bases do mercado de vinhos mundial, engarrafando e negociando pelas cidades de Biblos, Sydon e Tiro. No auge do seu poder comercial, um grande marco se deu no ano de 900 a.C., quando os vinhos libaneses foram notadamente reconhecidos pelos egípcios; os faraós exigiam vinhos de Biblos como itens de sua lista para a travessia para a próxima vida!

Os vinhos libaneses estavam em mesas de consumidores sedentos em Cartago, Chipre, Grécia, Roma, Sardenha, Espanha e até mesmo no sul da França.

A Bíblia Cristã (João 2-1-11) conta ainda que o primeiro milagre de Cristo, que foi transformar a água em vinho (Bodas de Canaã na Galileia), ocorreu na cidade de Qana al Jalil, situada a oitenta e cinco quilômetros de Beirute, ao sul de Tiro, onde existe atualmente uma vinícola que produz excelentes vinhos: Clos de Cana.

Patrimônio mundial, de extrema relevância e de impressionante magnitude, é possível visitar o Templo de Baco em Balbeque, erguido entre 150 a 250 d.C. pelo império Romano em homenagem ao Deus do Vinho Baco (imagem anexada).

Segundo Jancis Robinson (escritora e pesquisadora renomada no mundo do vinho), um importante momento na história do vinho libanês remonta ao ano de 1517, quando o Império Otomano invadiu o Líbano e a produção de vinhos foi proibida, exceto para fins religiosos. Com essa decisão os cristãos passaram a ser os grandes produtores de vinhos. A chegada dos missionários jesuítas em 1857 foi responsável pela introdução de novas variedades, bem como pela introdução de técnicas francesas de produção, fundando assim a base da moderna indústria libanesa do vinho.

Esse contexto histórico fez com que o Líbano, localizado na extremidade do Mediterrâneo, possuindo um diminuto território com cerca de 10.452 quilômetros quadrados, tivesse uma produção vinífera relevante e reconhecida no mundo, sendo, com certeza, o mais importante produtor de vinhos da região.

Segundo a Union Vinicole du Liban, o Líbano produz oito milhões de garrafas de vinhos anualmente, provenientes de vinhedos plantados em 2.120 hectares. O consumo interno da população libanesa é de cerca de cinco milhões de garrafas, entre vinhos nacionais e importados, muito impulsionada pelo turismo pujante.

Existem aproximadamente quarenta e seis vinícolas libanesas, incluindo grandes, médios e pequenos produtores, distribuídos em quatro regiões viníferas: Bekaa, Batroun, Mount Lebanon e South.

Em razão do domínio francês no Líbano, ocorrido entre os anos de 1922 a 1943, houve uma forte influência das castas francesas, tais como as tintas Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Carignan, Cinsault, Gamay, Grenache, Merlot, Mouvèdre, Petit Verdot, Syrah e Tempranillo, dando aos tintos libaneses uma característica bordalesa. Quanto às castas brancas, as mais plantadas são a Sauvignon Blanc, Semilion, Chardonnay, Viognier, Muscat, Clairette, Gewürztraminer. Vale destacar ainda as duas castas autóctones libanesas Obaideh e Merweh.

Os vinhos libaneses são encontrados em todo o mundo, na carta dos melhores restaurantes. No Brasil temos disponíveis vinhos de variados produtores, sendo os mais conhecidos o Chateau Musar, Chateau Kefraya, Chateau Ksara, Ixsir, Massaya e Ishtar.

Os vinhos libaneses, assim como seu povo são encontrados em todo o mundo, marcando sua presença por onde passam.

Victor Mauad.

 

2comentários
  1. Ótimo Victor Mauad

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