Assad Frangieh: Vocês têm acompanhados as denuncias do Ministério da Defesa Russo sobre a descoberta de testes de armas biológicas em laboratórios da Ucrânia? Por exemplo, é possível contaminar aves para aproveitar sua migração natural? São ainda teorias ou já se pode colocar isso na prática? Outras doenças podem ter a letalidade do coronavirus mas terem seus “antídotos” prontos?
Sandra Said: Tudo é possível
Esper Kallas: Olá Assad. Antes, vou colocar aqui o texto da minha coluna de quarta-feira na FSP sobre doenças infecciosas em zonas de conflito. Armas biológicas sempre fizeram parte de teorias de guerra, embora não tenha exemplos claros de terem sido usadas. EUA e URSS estudaram largamente a possibilidade, principalmente nos anos 60 e 70 da guerra fria (https://www.amazon.com.br/Dead-Hand-Untold-Dangerous-Legacy/dp/0307387844) –
Este livro, que ganhou o prêmio Pulitzer, conta grande parte dessa história, com um pouco do viés do ocidente, em parte do livro
(https://en.m.wikipedia.org/wiki/Sverdlovsk_anthrax_leak). Um dos eventos famosos foi o acidente de Sverdlovsk, no fim dos anos 70, que matou várias pessoas na Rússia. Foi um vazamento de esporos de antrax, supostamente de um laboratório que estava pesquisando como arma biológica
Esper Kallas: (https://www.google.com/amp/s/www.nytimes.com/2021/06/20/world/europe/coronavirus-lab-anthrax.amp.html) Os EUA também protagonizaram acidentes com antrax, não tendo sido, portanto, algo unilateral
Assad Frangieh: Sim. É um problema global sem fronteiras. Temos aqui no Brasil algum órgão que estabelece o combate às guerras biológicas ou isso ainda é tímido no Ministério da Defesa?
Esper Kallas: O problema das armas biológicas é seu controle. Embora exista a ideia de antígenos, sua disseminação é praticamente incontrolável. Além de que é praticamente impossível forçar a população a tomar algum produto. Veja a enorme dificuldade de vacinar conta s COVID, só como em exemplo. É por isso é por várias outras razões, que o emprego de armas biológicas foi banido pela ONU. https://en.m.wikipedia.org/wiki/Biological_Weapons_Convention
Esper Kallas: https://www.un.org/disarmament/biological-weapons/
Assad Frangieh: Somando as armas biológicas às armas químicas, as armas tradicionais parecem menos cruéis.
Esper Kallas: vários estudos já conseguiram demonstrar que o SARS-CoV-2 não foi feito em laboratório
https://www.nature.com/articles/d41586-022-00584-8 – O último, publicado na Nature 2 semanas atrás, faz uma análise profunda sobre o assunto
https://twitter.com/k_g_andersen/status/1499060168327237633?s=24 Leia o extraordinário fio no Twitter do Kristian Andersen
Esper Kallas: Não conheço nada em curso. O Brasil sequer tem um laboratório nível 4 de segurança para estudo de armas biológicas.
Assad Frangieh: Em resumo. Já temos a natureza com suas armas biológicas em evolução e ao invés de confrontar e combater, tentamos controlar e usar as mesmas na esfera militar.
Paulo Nicolau “Atualmente, o Exército conta com laboratórios fixos e móveis que possuem a capacidade de identificar agentes biológicos ou cooperar com agências nacionais e internacionais, assim como frações dotadas de equipamentos para identificar e descontaminar materiais viabilizando a proteção perante uma possível ameaça.” https://www.defesanet.com.br/dqbrn/noticia/35699/A-capacidade-de-Defesa-Biologica-do-Exercito-Brasileiro/