Publicado no Brasil247
Movimentos, grupos sociais e famílias denunciam ataques de Israel na Faixa de Gaza. ‘Perdi 65 parentes’, diz refugiado palestino.
OperaMundi – “Viva, viva Palestina!”, repetido diversas vezes, foi o grito que deu início a mais um ato de solidariedade ao povo palestino em São Paulo. A Praça Oswaldo Cruz, início da Avenida Paulista, foi o ponto onde, neste domingo (22/10), mais de duas mil pessoas – entre idosos, famílias com crianças, trabalhadores e jovens – se reuniram por um mesmo propósito: a reivindicação pelo fim do genocídio, da ocupação militar e do colonialismo em território palestino. Movimentos sociais, sindicatos, dirigentes partidários e entidades religiosas também se juntaram para defender a causa:
“O nível de barbárie faz com que todos se mobilizem. O que está acontecendo é uma questão humanitária séria”, disse um dos manifestantes que não quis se identificar. Ualid Rabah, que é presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal), uma das organizações na condição máxima de representação da diáspora no país, avalia que “está se desenhando um consenso de pessoas que se dedicam aos direitos humanos” dentro do cenário da Palestina.
Além dos gritos em solidariedade aos mais de 4.651 palestinos mortos (sendo 1.873 crianças) até este domingo (22/10), segundo o Ministério de Saúde em Gaza, uma das pautas que ganhou destaque na manifestação foi a narrativa dos grandes veículos de comunicação sobre o conflito: “Uma verdadeira fábrica de mentiras, propaganda de guerra para legitimar a matança desencadeada pelo projeto colonial israelense. Tudo vai ser revertido através destas manifestações”, disse Rabah.
O representante da comunidade árabe da Baixada Santista e vice-presidente da Sociedade Beneficente Islâmica do Litoral Paulista, Salah Mohamad Ali, afirmou que o ato é uma oportunidade para “mostrar ao mundo inteiro que o povo palestino não prega a violência”: “Todos estão assistindo a isso com o apoio dos Estados Unidos e da Europa. São 75 anos de mentira e chegou a hora que os palestinos tenham uma força para enfrentar Israel”, disse Ali, que também criticou também a decisão norte-americada de vetar a resolução brasileira no Conselho da ONU, que solicitava a abertura de corredores humanitários em Gaza: “vetou uma resolução que todo mundo apoiou”.
Músicas, bandeiras e intervenções artísticas criticavam os ataques de Israel. Cartazes denunciavam o Estado por “genocídio”, “limpeza étnica” e “ocupação”. O jornalista Breno Altman, fundador de Opera Mundi, que foi alvo de ataques e ameaças de grupos radicais pró-Israel nos últimos dias, participou do ato e reforçou que a população brasileira tem o compromisso de ampliar ao máximo a solidariedade às vítimas:
“Todos nós temos a obrigação de denunciar os crimes contra a humanidade que o Estado colonial de Israel comete, mas também temos que andar de cabeça erguida, porque a Palestina resiste”, ressaltou Altman.
“Wuhush”
Há três anos, Rafat Alnajjar chegou ao Brasil sozinho, em condição de refugiado. Nascido na Faixa de Gaza, o palestino se comprometeu a defender seu povo e compareceu ao ato minutos antes de começar.
Rafat, que hoje é professor de língua árabe, conta que quis fugir da violência:
“Se ficasse lá, só conseguiria ficar sobrevivendo, esperando a qualquer momento ser morto por bombas, como acontece hoje”.
Sem familiares por perto, o palestino conta que seus pais e seus dez irmãos ficaram em Gaza, e todos os dias teme que algo ruim aconteça com eles:
“Minha família toda está lá. Perdi 65 parentes. 44 pessoas foram embora de uma vez só. Ontem, recebi outra notícia da prima da minha mãe, dizendo que mais 24 morreram de uma vez. Cada dia recebo uma notícia pior do que a outra”, lamenta Rafat.
“Wuhush” é o termo que, de acordo com ele, não existe tradução literal para o português, mas que usa para descrever os sionistas, algo semelhante a “monstros sem misericórdia”:
“Os wuhush estão apagando a nossa história. Quero que o mundo procure e entenda a realidade”.