Por Assad Frangieh
Para o www.orientemidia.org
04-06-2021
Quando o Presidente francês Macron esteve no Líbano logo após a explosão do porto em 4 de agosto 2020, a crise no Líbano já tinha eclodido há mais de 10 meses. A Comunidade Europeia e o Fundo Monetário Internacional tinham e continuam exigindo até hoje, que houvesse um Gabinete Ministerial de “Especialistas” implantando reformas monetárias e administrativas profundas, para que houvesse de novo a abertura de créditos que salvasse a moeda da desvalorização e o país de um abismo social. Estas reformas incluem em primeiro lugar, a privatização das instituições como o Porto, o Casino do Líbano, o Aeroporto, a Eletricidade, a Água e Esgotos, o Transporte Público, a Exploração de Gás e Petróleo entre outros itens de infraestrutura. Em outras palavras, só há investimentos do Ocidente em troca de controle total sobre isso, através destas reformas.
Esta privatização do Líbano seria o primeiro passo para formar um orçamento público transparente e definido. No Líbano, não há teto orçamentário dos Ministérios muito menos controle fiscal. Isso permitiu que ministérios sob comandos políticos gastassem à vontade tudo que era possível receber do Gabinete e do Banco Central. A maior parte desses gastos foram para licitações fraudulentas, elevação de salários e contratações novas e nada de investimentos na infraestrutura básica. O destaque vai para o setor de Eletricidade que 30 anos após o fim da Guerra Civil ainda depende em 55% das casas e empresas, de geradores privados complementares.
Portanto a proposta francesa exigia para seu sucesso, um desapego político de como fazer a gestão do Líbano e um desapego do Poder que teria reflexo na esfera judiciária levando muitos políticos, gestores de cargos públicos e empresários ao banco dos réus. A formação de um Gabinete sob a presidência de Saad Hariri não está travada numa disputa política entre o mesmo e o ex-ministro de Exterior Gibran Bassil, hoje representante magno do Presidente Aoun. Isso é apenas uma cortina de fumaça. Todos os políticos têm o interesse de não haver um Gabinete porque a única proposta existente os levará à perda do Poder Feudal e que se estenderá ao Poder das Autoridades Religiosas, naturalmente com poucas exceções.
Nisso, a reserva monetária do Líbano está no seu mais baixo patamar com a Lira Libanesa fortemente desvalorizada com a perda de credibilidade porque o Banco Central e a conivência dos Bancos saquearam mais de 70 bilhões de dólares dos depositantes nacionais e estrangeiros. Não há como esse dinheiro surgir, não há como devolver aos seus donos e não há como se dar crédito ao Líbano sem as reformas e com todas as implicações políticas e estratégicas sob a vida do cidadão libanês.
A formação de um gabinete no Líbano parece algo distante e as trocas de acusações são apenas matérias de consumo dos noticiários. Todos têm sua dose de responsabilidade, talvez em medidas diferentes, inclusive o povo que elege diretamente seus representantes. É difícil encontrar uma luz real de esperança nos próximos tempos. Até lá, só podemos assistir o desgoverno do Líbano enquanto se espera o que os libaneses chamam da “Grande Explosão”.