A União Libanesa da Diáspora é uma Associação Brasileira que agrega líderes e membros da Comunidade Libanesa no Brasil com sede em São Paulo.

Ibrahim Sued – Jornalista, Fotógrafo, Crítico, Apresentador de TV e Colunista inesquecível da sociedade carioca

Considerado como um homem elegante, contou certa vez que, no início da sua carreira, tinha apenas um terno, que deixava todo dia debaixo do colchão de sua cama, para que não perdesse o vinco.

Ibrahim Sued nasceu em 30 de junho de 1924, no bairro da Tijuca, Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro, descendente de imigrantes libaneses. De família pobre e filho de pais separados, aos oito anos, depois do falecimento da mãe, foi morar com a avó e, para garantir seu sustento, trabalhou como office-boy de sapataria e jornaleiro.

Aos 17 anos, abandonou os estudos na segunda série ginasial. Através de seu irmão Alberto, Sued passou a integrar o “Grupo dos Cafajestes”, formado por rapazes ricos da Zona Sul carioca que se reuniam no Café Alvear, em Copacabana, no final da década de 1940 e início dos anos 1950, para organizar idas a festas e cassinos. Foi a partir de então que tomou contato com os membros da alta sociedade do Rio de Janeiro. Acompanhando alguns amigos jornalistas na cobertura de jogos de futebol, aproximou-se da profissão e passou a trabalhar como fotógrafo de reportagem freelance para o jornal O Globo.

Em 1946 conseguiu um furo fotográfico, ao flagrar o político baiano e então líder da União Democrática Nacional (UDN) Otávio Mangabeira “beijando” em reverência a mão do general americano Dwight Eisenhower, ex-comandante das tropas aliadas na Europa na Segunda Guerra Mundial, em visita à Câmara dos Deputados. A foto despertou grande polêmica por sugerir a subserviência brasileira aos Estados Unidos e foi amplamente divulgada, tornando Sued conhecido no meio da imprensa. O momento da foto parece ser um beijo. Não era.

Como fotógrafo freelance da Tribuna da Imprensa, começou a publicar, na coluna de Fernando Veloso e Medeiros Lima, pequenas notas sobre almoços no Jóquei Clube e no Hotel Copacabana Palace, redutos da alta sociedade carioca. O sucesso das notas encorajou-o a enveredar por esta linha da crônica social.

Em 1952 assinou no jornal Vanguarda sua primeira coluna social, intitulando-a “Zum-zum” em homenagem ao Grupo dos Cafajestes. Em seguida, além de escrever para a Gazeta de Notícias, passou a ter uma coluna na revista Manchete, chamada “Soirée”, em que pela primeira vez na imprensa brasileira uma crônica social vinha ilustrada com fotografias. Foi colaborador também do Diário Carioca, com uma coluna dominical sobre a noite elegante no Rio de Janeiro, e do Diário da Noite.

Em agosto de 1954, ingressou no jornal O Globo, a convite do jornalista Roberto Marinho, como responsável por uma coluna diária sob o título de “Reportagem social”, através da qual se tornaria famoso na imprensa e entre o público como criador do moderno colunismo social no Brasil. Influenciado por jornalistas americanos tais como Elza Maxwell e Louella Parsons, Sued criou um estilo próprio de crônica social, em que misturava comentários sobre o mundo da alta sociedade — por ele chamado de “café-society” — com notícias e furos de reportagem sobre assuntos gerais.

Outro traço particular pelo qual ficou conhecido foi a invenção de neologismos e expressões que se tornaram célebres, como “champanhota”, “ademã que eu vou em frente”, “sorry, periferia” e “de leve”. Aos que punham em dúvida sua inteligência ou suas posições políticas, respondia sempre com a mesma frase, um provérbio árabe: “Os cães ladram e a caravana passa.” Diante das críticas aos erros ortográficos freqüentes em seus textos, brincava dizendo ser o Guimarães Rosa do jornalismo.

Em sua coluna, Sued popularizou festas e eventos, como o “baile Glamour Girl”e o “baile das debutantes”, por ele rebatizado de “baile do vestido branco” e organizado pela última vez em 1961. Um dos maiores sucessos de sua coluna foi a indicação anual das listas das “dez mulheres mais elegantes” e dos “dez homens mais elegantes” do país.

Em 1963, a convite de Assis Chateaubriand, deixou O Globo e passou a escrever para O Jornal e a revista O Cruzeiro, além de apresentar-se na TV Tupi. No ano seguinte passou a apresentar-se na TV Globo no programa Ibrahim Sued repórter, atividade que desenvolveria até 1974. Em setembro de 1968 reiniciou sua coluna diária no jornal O Globo.

Realizou entrevistas exclusivas com a ex-atriz e princesa de Mônaco Grace Kelly e com o então presidente dos Estados Unidos John Fitzgerald Kennedy.

Durante o governo do general Artur da Costa e Silva, recusou o convite do então ministro Mário Andreazza para ocupar o cargo de secretário de Imprensa.

Tendo se tornado próximo aos altos círculos da política nacional, em entrevista ao semanário O Pasquim de 26 de junho de 1969, Sued assegurou que o candidato à sucessão do general Costa e Silva na presidência da República seria o general Emílio Garrastazu Médici. Antecipou assim a indicação do nome do novo presidente, oficializada pelo Alto Comando do Exército em 6 de outubro daquele ano.

No carnaval de 1985, o “Turco”, apelido pelo qual era conhecido, foi homenageado pela escola de samba Acadêmicos de Santa Cruz através do enredo “Ibrahim, de leve que eu chego lá”.

Em 1989, sua coluna em O Globo foi suspensa por 24 horas como represália de Roberto Marinho devido à publicação de uma nota em que informava que o então deputado Ulisses Guimarães iria processar a TV Globo em função das críticas feitas à sua pessoa por meio de um personagem da novela Salvador da Pátria (levada ao ar dez anos depois com o novo nome de Roque Santeiro).

Em junho de 1993, com a transferência do jornalista Zózimo Barrozo do Amaral do Jornal do Brasil para O Globo, sua coluna diária nesse jornal tornou-se dominical.

Foi produtor de várias peças teatrais, entre elas My fair lady.

Em 1º de outubro de 1995, faleceu de infarto agudo, aos 71 anos.

Foi casado com Glorinha Drumond Sued, com quem teve dois filhos, Bebel e Eduardo, e com Simone Rodrigues. Em 1992, reconheceu a paternidade de Guilherme, filho que tivera com Márcia Lebelson.

Publicou sete livros, no período entre 1965 e 1986: 000 contra MoscouVinte anos de caviar, O segredo do meu su… sucesso; Aprenda a receber; Ibrahim Sued: nova etiqueta, Trinta anos de reportagem, e Vida, sexo, etiqueta e culinária.

Foi agraciado com a Ordem do Mérito Naval, com a medalha Santos Dumont, recebida do então governador de Minas Gerais Tancredo Neves, e com a Comenda de Cavaleiro da Legião de Honra da França.

Simone Kropf

Ibrahim Sued confessava ser maronita.

FONTES: Globo (2/10/95); Imprensa (11/95); Interview (3/79); IstoÉ (11/10/95);  Jornal do Brasil (2/10/95); Manchete (31/5/69); SUED, I. Trinta; Tribuna da Imprensa (2/10/95); Veja (4/5/83 e 20/2/95).

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