A União Libanesa da Diáspora é uma Associação Brasileira que agrega líderes e membros da Comunidade Libanesa no Brasil com sede em São Paulo.

Ilusões de uma mudança radical nas próximas eleições parlamentares no Líbano

Por Nagi S. Al Bustani

Publicado na revista eletrônica libanesa El-Nashra (elnashra.com) e Traduzido por Assad Frangieh em 17/12/2021

Apesar do colapso em ocorrência e disseminado em vários setores, pode-se dizer que a maioria das forças políticas entraram em contagem regressiva para as eleições desde já, à luz da expectativa e esperança de grandes transformações da atual realidade, de acordo com diferentes e até radicalmente interesses contraditórios e pontos de vista de cada partido envolvido no processo eleitoral. Será que o Direito eleitoral realmente garantirá a mudança desejada, ou tudo que se diz são ilusões e nada mais do que licitações eleitorais?

É importante referir que é difícil fazer uma leitura dos resultados aguardados das eleições antes de se decidir a data definida destas eleições, antes de identificar a natureza das alianças que se formarão, e também antes de analisar a composição e número das listas eleitorais que irão disputar o clima reinante da vontade popular nas vésperas das eleições e de acordo com as condições prevalecentes no Líbano, em seus diversos aspectos. No entanto, mesmo que revejam todas as possibilidades apresentadas, encontramo-nos perante um beco sem saída, de modo que uma mudança radical da atual situação não é verdade.

Isso se deve a vários motivos dos quais os mais importantes são:

Primeiro: A natureza da lei eleitoral proporcional permite que qualquer partido que goze de popularidade considerável tenha acesso ao Parlamento. Esta realidade aplica-se aos principais partidos e correntes libanesas, independentemente de qualquer declínio que os afetará ao nível do número total de deputados. Em outras palavras, por mais surpreendentes que sejam os resultados, forças políticas como o “Hezbollah”, o “Amal”, o “Movimento Patriótico Livre”, as “Forças Libanesas”, “Al-Mustaqbal”, “o Partido Progressista Socialista” entre outros, voltarão ao Parlamento em número significativo, mesmo que haja uma certa mudança. Este fato é inevitável, não só porque essas forças têm bases populares estáveis ​​e bem estabelecidas que não mudam sua lealdade facilmente, mas também porque as divisões políticas, sectárias e confessionalistas no Líbano alimentam esta tendência em primeiro lugar e pressiona por sua sobrevivência, não importa o quão severo seja o colapso, e não importa o quão grande seja a maldição popular sobre tudo!

Segundo: Falar sobre a chegada de um grande grupo de fora das conhecidas forças partidárias não garante nenhuma mudança radical. Essas forças, que se autodenominam “revolucionárias” e “oposição a todo o sistema político” e “representantes da sociedade civil”, não estão unificadas até o momento, e todos os indicadores apontam que não haverá listas centralizadas e unificadas para estas forças, pois estas forças irão se distribuir em mais de uma lista, algumas das quais independentes de qualquer influência partidária, e outras compartilhadas com forças partidárias tradicionais, como o partido Falangista e o Partido Comunista. Entre tais alianças, algumas serão regionais como dos deputados demissionários do Parlamento Michel Mouawad e Neemat Efram, ou como dos atuais deputados Fouad Makhzoumi e Michel Daher. Consequentemente, não há esperança de que as “forças da mudança” ganhem números que mudem o status quo da Assembleia Legislativa, primeiro por causa das divisões em suas fileiras, e porque muitos partidos que se consideram independentes ou transformadores, são secretamente leais a este ou aquele partido, a esta embaixada ou àquela, etc… Em qualquer situação, formar um bloco “independente” que inclua 20 deputados, por exemplo e que inevitavelmente constituirá um grupo de peso e pressão no Parlamento, não será capaz de trazer uma mudança radical nos delicados equilíbrios internos do Líbano.

Terceiro: A mudança da atual maioria governante não significa que ocorrerá a desejada mudança de desempenho, e há muitos exemplos disso desde os parlamentos eleitos em 2005 até hoje. Não é nenhum segredo que quaisquer mudanças políticas importantes no Líbano levam a minoria a desempenhar o papel de obstruir o governo de maioria, e foi isso o que aconteceu nas últimas duas décadas. E a questão não precisa nem mesmo de blocos de oposição significativos para obstruir o desempenho do Governo em alguns casos, já que a “dupla xiita” que atualmente impede a reunião do Gabinete devido a disputas político-judiciais, havia anteriormente conseguido obstruir muitas decisões, paralisando a produtividade do Parlamento e do Gabinete dos Ministros, sob o pretexto de defender a “Carta Magna”. Nada impede que este assunto seja repetido no futuro ainda que o Hezbollah seja o mais capaz de fazê-lo pelas forças das armas que possui. Portanto, qual é o benefício para a maioria mudar, enquanto o povo libanês estiver dividido, enquanto a vitória de qualquer partido político sobre o outro, automaticamente e imediatamente levará a blocos políticos de oposição para confrontar o vencedor, visto que as divisões atuais se tornaram agudas dentro da mesma equipe, e não entre dois partidos políticos frente a frente?!

Com base no exposto, as forças libanesas podem falar sobre uma mudança radical esperada e desejada durante as próximas eleições, mas a verdade é certamente diferente, pois a maioria dos libaneses se convenceu de que tudo o que está sendo dito sobre economia, finanças, reformas sociais, a luta contra a corrupção, o desenvolvimento, a administração e a estrutura das instituições estatais, sobre levar criminosos, corruptos e ladrões à Justiça, sobre o papel do Líbano no contexto do Oriente Médio, sobre mudanças na estrutura política interna e as coligações internacionais do Estado e sobre o retorno do Líbano às suas atribuições anteriores na Região, etc. Nada mais é do que desenhar ilusões que não vão se concretizar, por interesses eleitorais e nada mais!

O texto é uma opinião pessoal do autor e não representa necessariamente a opinião dos membros da União Libanesa da Diáspora.

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