Por Renata Abalém advogada, neta de libaneses, Diretora da Câmara de Comércio Brasil Líbano.
“Assim na Terra como no Céu” está longe de ser somente a oração cristã de todos os dias e ainda mais longe de ser a telenovela dos anos 70. Significa muito mais. Para os astrólogos, o que acontece no céu, acontece na Terra, como fosse um espelho, indicando o que nos sucederá. Gosto de pensar que existem pistas ou manuais explicativos sobre a humanidade, que, uma vez crianças, ainda não entendemos.
Se pistas existem ou existiram no firmamento, deixem-me contar o que os estudiosos do Cosmos falavam sobre o céu do dia 4 de agosto de 2020:
Saturno, Plutão e Júpiter estavam em Capricórnio e expressavam a crise mundial. Marte, que é o Deus da guerra e rege as tragédias e explosões, estava junto com Quíron, o astro centauro da ferida que nunca se cura, tudo junto e misturado em um fenômeno que chamam de “quadratura”.
Para ilustrar, na Segunda Grande Guerra, Saturno, Júpiter e Urano estavam em Touro e na época da Peste Negra, Plutão, Júpiter e Urano, estavam juntos em Áries, ou seja, esses rapazes são um terror celestial. Tomando como base tais movimentos planetários e horoscópicos, voltemos para o chão, porque não entendo nada de astrologia, mas me arrisco a dizer que a ferida que nunca se cura voltou a sobejar pus.
Para quem não se lembra, em 4 de agosto de 2020, mais de 2.750 toneladas de nitrato de amônio explodia o porto de Beirute e levava consigo mais de 200 almas, além de deixar muitos feridos, uma cidade devastada e um pais arruinado. Beirute, mencionada nas Cartas egípcias de Amarna datadas do século XV a.C.; Beirute, fundada pelos fenícios, a quem os romanos chamaram de “Colônia Júlia Augusta Felix Berytus” – a afortunada colônia de Julio Augusto; a “Cidade das Fontes”; a “Mãe das Leis; ocupada por gregos e bizantinos, a cidade que caiu para os cruzados, para os mamelucos, para os egípcios, ocupada por mais de 400 anos pelos otomanos, bombardeada pelos russos, a que foi destruída por terremotos, sucumbia por um capricho humano, abrindo, mais uma vez, uma ferida com aparência de eterna.
No 4 de agosto, Beirute sangrou e o mundo viu. Seja por conspiração planetária ou não, a explosão alçou a crise libanesa a patamares nunca antes sonhados. Passados dois anos e sem que as investigações apontem responsáveis, o verbo mais conjugado é o “colapsar” – em todos os sentidos. Falta tudo. De combustível ao pão libanês. De energia elétrica aos remédios básicos para a população. Isso? Falta! Aquilo? Falta também. Para além das faltas contadas nos supermercados, começam a faltar pessoas, pois os libaneses com alguma ou com nenhuma profissão, estão abandonando o Líbano – é preciso ter trabalho e esperança.
Para além das faltas, o Líbano sofre!
Para além da crise econômica, da crise política, de todas as crises, o Líbano sofre. Uma crise de moralidade assombra o país. A corrupção foi escancarada e mesmo assim a população não consegue reagir. É a última das crises. É a perda da identidade. Aquela identidade que não foi roubada por nenhum dos povos invasores, foi perdida para o próprio povo libanês.
Os céus contam que, chegando agosto de 2022, Plutão, Saturno, Netuno, Júpiter e Urano entram em retrogradação… tipo assim: andam pra trás. Gosto de pensar que Beirute, apesar das órbitas dos planetas, apesar dos prognósticos bélicos, apesar dos próprios libaneses, reencontrará sua verdadeira vocação, aquela lá dos séculos passados… aquela vocação de renascer.