Por Dr. Assad Frangieh
Há uma semana atrás, o Parlamento Europeu votou a favor de manter os deslocados sírios no Líbano permanecendo as ajudas econômicas e logísticas para seus assentamentos. As estatísticas apontam a presença de mais de um milhão e meio de cidadãos sírios ativos, mulheres, idosos e crianças, muitas nascidas em território libanês desde 2011. A lei aprovada no parlamento da Comunidade Europeia não tem sua aplicabilidade no Líbano porém é diretriz para seus 27 Estados membros. Na prática, há um repúdio nacional libanês ao ato do Parlamento Europeu por diversas razões. O Líbano está com sua economia comprometida fortemente com a mega desvalorização da sua moeda, sua instabilidade social e política além de ser o único país do mundo com uma população de refugiados e deslocados superior à capacidade de absorver e demograficamente desestabilizadora. O Líbano relata uma população de 6 milhões sendo quase dois milhões refugiados palestinos e deslocados sírios. Incoerência constitucional e ameaça real à sobrevivência da República Libanesa.
Esse apoio da Europa e dos Estados Unidos até então não oficializado, é acompanhado por outras obrigações que o Estado Libanês é destinado à cumprir como a participação numa rede de patrulhamento da costa leste do Mediterrâneo que interrompa qualquer tentativa de emigração clandestina pelo mar. Em paralelo, todo o suporte financeiro que chega aos sírios deslocados cadastrados num banco de dados da ONU sem compartilhamento com as autoridades de segurança pública do Líbano, é feito através das organizações não governamentais que têm a princípio, que o repasse desta ajuda seja realizada apenas dentro do Líbano. A Comunidade Europeia alega que não há estabilidade política e segurança pública na Síria, algo rebatido pelos fatos, pelas inúmeras anistias feitas pelo Governo da Síria aos que não serviram no Exército e ainda pelos sírios que recebem suas ajudas no Líbano e cruzam a fronteira de imediato para investirem em construções e recuperação dos vestígios dos conflitos armados.
Porquê então a Europa e os Estados Unidos insistem e pressionam para a manutenção dos deslocados sírios no Líbano, sufocando a Economia do Líbano e sua reabilitação social? Analistas libaneses dizem que o problema dos deslocados sírios não poder ser desvinculado do macro conflito do Oriente Médio e principalmente da presença do Estado de Israel em territórios palestinos ocupados. Seria uma barganha internacional com o Estado libanês, em troca do retorno dos sírios deslocados para a Síria, reconhecer o assentamento definitivo dos refugiados palestinos e sua plena integração na sociedade libanesa? Teria sido a estratégia norte americana e, sionista em sua essência, de um Novo Oriente Médio que gerou guerras sectaristas e conflitos civis desde o Iraque, Líbia, Síria, Iemen e atualmente no Sudão, em troca do fortalecimento do Estado de Israel como ponta de lança do Ocidente, ao mesmo pensamento das Cruzadas, mais de um mil anos atrás?
De qualquer forma, as declarações de intenções do Parlamento Europeu apenas reforçam que os libaneses não podem confiar a não ser em si mesmo, se entenderem e encontrarem soluções pacíficas para a reconstrução de sua República sem a tutela de ninguém. Uma missão difícil mas nunca impossível.
Dr. Assad Frangieh é presidente da União Libanesa da Diáspora – entidade membro da União Libanesa Cultural Mundial.
www.uniaolibanesa.net.br