Por Assad Frangieh
Durante décadas um dólar valia 1.570 liras libanesas. O Banco Central do Líbano dava esta cobertura seguindo uma política de captação de recursos internos e internacionais assegurando juros até 15% anuais sobre os depósitos. Um índice extremamente atrativo, mas incompreensível para qualquer economista de Estado. Com a crise deflagrada em outubro de 2019, o Banco Central e os mais de 100 bancos privados declararam que não há como qualquer cidadão retirar seus depósitos. Como disse o ditado “Devo e não nego. Pago quando eu puder’. Assim foi a resposta do sistema financeiro e monetário à sociedade civil libanesa.
O valor da lira libanesa é garantido pelas reservas do Banco Central em dólares, em outras moedas fortes, e também suas reservas em ouro e outros metais preciosos como prata. Quando a impressão da moeda em papel não for coberta por uma reserva correspondente, o valor da lira acaba diminuindo em relação ao dólar. No começo era isso, porém a partir de um determinado momento a reserva estratégica do Banco Central passa não ter efeito mais na taxa de câmbio entre a Lira Libanesa e o Dólar. O Líbano entrou numa nova etapa de perda de confiança dos libaneses em sua moeda, em seu sistema político, no seu Banco Central e no setor bancário e financeiro em geral.
A força de qualquer moeda está ligada à dois pilares: a força e sustentabilidade de sua economia em primeiro plano e à estabilidade do sistema político em segundo plano. É claro que alguns fatores, especialmente o tamanho das reservas e o valor da dívida pública, têm seus impactos, mas a força da economia continua predominante. Não é possível falar de poder econômico à luz do colapso e a instabilidade política que se traduz num desequilíbrio em todas as áreas e setores afetando o ciclo económico e monetário em particular. Com o desgaste que ocorre em todas as instituições governamentais e, uma dúbia e suspeita política do governador do Banco Central, as reservas em ouro ou moedas fortes passam ter nenhum efeito significativo.
Assim o dólar já ultrapassou o câmbio de 35 mil liras libanesas com expectativas de continuar a sua desvalorização. O perigo está em continuar a drenagem dessas reservas sem uma solução de recuperação com reformas sérias senão em menos de 2 a 3 anos, haverá inequivocamente um colapso total da economia e da sociedade libanesa.