Fonte: Carta do Líbano
A história de Roberto Duailibi – 86 anos – pode ser classificada como uma aventura épica. Na primeira metade do século 20, o pai, – Wadih Galeb Duailibi, que tinha formação superior em Farmácia, na França, decidiu trabalhar com garimpo e vendas em Mato Grosso. A mãe, Cecília Fadul Duailibi, permanecia em Campo Grande, à frente do comércio da família. Até os seis anos de idade, Roberto viveu uma vida feliz, com muita brincadeira – pé descalço, estilingue, bola de gude, pião – em uma cidade vibrante e ainda em formação. Campo Grande era, então, uma cidade poliglota. Reunia comerciantes e aventureiros que falavam árabe, espanhol, francês, português e guarani. Já os padres preferiam o italiano. Naquela época, a comunidade libanesa era uma grande família.
Na loja da mãe, “Madame Cecília”, Roberto era responsável por tirar a poeira dos balcões, arrumar as vitrines, forrar os botões e fazer plissê. Com a mãe e as irmãs, Roberto ouvia rádio de Buenos Aires e novelas da Rádio Nacional, lia FonFon, Jornal das Moças, O Cruzeiro e revistas francesas de moda. Decorava e declamava poesias. Conhecia guarânias paraguaias, música brasileira e cantava hinos – o Nacional, alguns militares e outros religiosos. Eram
tempos da Segunda Guerra Mundial e do Estado Novo de Vargas no Brasil.
SÃO PAULO, A EXPANSÃO DAS FRONTEIRAS
Mesmo neste ambiente familiar favorável aos estudos, Roberto não se adaptou ao austero método de ensino do colégio de padres – palmatória, ficar de castigo ajoelhado no milho, levar cascudos, puxões de orelha. Por isso, aos seis anos foi mandado para São Paulo para morar com a avó, Ada Vianello, e a tia Ignêz. Na capital paulista aprendeu a ler em uma semana, resultado da surpresa de ter uma professorinha linda na escola. A avó e a tia falavam árabe, italiano e português e, regra da casa: todos os dias o menino Roberto tinha que ler o jornal O Estado de S. Paulo da primeira à última página. Quando estava com 12 anos, seus pais voltaram para São Paulo e a família passou a morar na rua Eça de Queiroz, Vila Mariana, onde sua mãe abriu um ateliê de costura. Nesse período Roberto começou a frequentar espaços importantes do bairro – o bar do português que lhe apresentou Eça de Queiroz, o Colégio Benjamin Constant e o Colégio Bandeirantes. Nesses lugares estudava, praticava esportes e conhecia a política. Mais tarde, trabalhou no Jornal de Vila Mariana, escrevendo notas e notícias, vendendo espaço publicitário, acompanhando a produção gráfica e ajudando na distribuição. O emprego no departamento de propaganda da Colgate Palmolive aconteceu pouco antes da aprovação na Escola de Propaganda. Lá Roberto teve oportunidade de aprender com profissionais consagrados como Alfredo da Silva Carmo, José Kfouri, Renato Castelo Branco, Otávio da Costa Eduardo, Rodolfo Lima Martensen, Caio Domingues, Gherard Wilda e tantos outros. Cursava Propaganda e também a Escola de Sociologia e Política. Já na Colgate, conheceu uma jovem secretária recém-formada pelo Mackenzie, Sylvia Berg. Filha de alemães, o pai judeu e a mãe luterana – união inadmissível na Alemanha nazista, o que obrigou o jovem casal a fugir da Europa. Sylvia é sua companheira de todos os momentos e de todas as viagens. Com ela teve os gêmeos Marco e Rubem.
OS QUATRO PILARES DA DPZ
Em 1968, Roberto já havia passado pelas agências de publicidade McCann Erickson, Thompson e Standard. Estava casado e tinha uma considerável bagagem de conhecimento – seu principal patrimônio – e era o maior salário da propaganda brasileira. Nesta época surgiu a oportunidade para associar-se a José Zaragoza, Francesc Petit e Ronald Persichetti e fundar a DPZ – uma agência com o propósito de fazer campanhas controversas, bonitas, bem executadas e bem-humoradas, fundamentadas por Quatro Compromissos – verdade, originalidade, bom gosto e moral nos negócios. Os dois primeiros anos foram difíceis, pois o Brasil vivia uma recessão associada a uma grave inflação. Mas os compromissos e os trabalhos publicados conquistaram e encantaram clientes como Nestlé, Itaú, Sadia, Kaiser, Bom-Bril, Singer, General Motors, Souza Cruz, Rhodia, Petrobrás, Fotoptica, Telebrás, Telesp, Vivo. O portfólio de ideias e clientes só cresceu e a publicidade foi um caminho de satisfação que Roberto descobriu para cumprir a missão de tornar as pessoas melhores. Para Roberto, “a verdadeira criatividade é a capacidade de definir um problema. Resolvê-lo de maneira nova, diferente e original depende de uma atitude de trabalho, um desejo de enriquecer as outras criaturas humanas ao ver o resultado do esforço”.
A reportagem completa pode ser lida na Edição 173 da Carta do Líbano – Acesse neste link