por Dr. Assad Frangieh.
Há uma semana que os acontecimentos evoluem para uma guerra abrangente. Agora estamos perante uma verdade da qual não há escapatória. Gaza tem uma semana até um colapso geral, com a perda de todas as necessidades de vida, como água, luz, eletricidade, alimentos e medicamentos. Os palestinos não sairão de Gaza e o Exército de Israel talvez entre numa batalha que lhe será a mais humilhante das batalhas. Então o Eixo da Resistência* terá de intervir no terreno de forma abrangente, e será o Dia do Juízo regional.
Tudo indica esta possibilidade. As declarações do presidente iraniano, Ibrahim Raissi, no seu diálogo com o presidente francês Macron disse que o Irã não será capaz de deixar Gaza sucumbir, e que o Irã não ficará de braços cruzados. Talvez as declarações do seu Ministro do Exterior, Hussein Amir Abdollahian, tenham sido as mais claras. Ele repetiu deliberadamente as mesmas mensagens mais de uma vez para que os destinatários as pudessem compreender. Da mesma forma, o Hezbollah, enviará mensagens em seus mísseis dizendo que já fazem parte desta batalha.
Os norte-americanos que trouxeram os navios de guerra para a região começaram a perceber os perigos do seu envolvimento na batalha. O Secretário de Estado Anthony Blinken ouviu contrariado da Monarquia Saudita e do Governo Egípcio que não haverá tolerância com a ideia de expulsão dos palestinos de Gaza para seus territórios. Os americanos vivem um estado de turbulência que tentam remediar. O anúncio da nomeação de David Satterfield como enviado à região para intermediar a questão dos prisioneiros é um retrocesso de posicionamento político, em contraste com a primeira posição, que apelou à eliminação dos palestinos e deu carta branca ao ataque à Gaza.
A administração norte americana percebe que os seus interesses e bases militares na região serão visados. Este é um custo elevado que os Estados Unidos não poderão suportar porque reduzirá a sua influência na região, por um lado, e a sua incapacidade de gerir duas guerras, no Oriente Médio e na Ucrânia ao mesmo tempo, especialmente porque os Estados Unidos atravessam uma crise econômica importante depois de terem sido forçados a aumentar o limite máximo da dívida interna, que ascendia a mais de 35 bilhões de dólares, ou seja, 1,3 vezes mais do que seu PIB nacional. Os EUA também perceberam que tanto a China como a Rússia estão de camarote vendo eles mergulharem numa nova guerra.
O Secretário de Estado dos EUA tentará propor uma saída para a crise, pressionando alguns países árabes para que garantam a saída que impeça os Estados Unidos de se envolverem numa guerra, por um lado, e assegurando que Israel não apareça como um país derrotado, por outro lado. O Hamas e os grupos de Resistências Palestinos, apesar dos massacres a que o povo palestiniano foi sujeito em Gaza, bem como o Eixo da Resistência, que provou a sua presença, coesão, capacidade de travar uma batalha conjunta, e a sua capacidade de planejar e implementar suas estratégias de múltiplas formas, já são vitoriosos. Muito além de unir o Mundo Árabe, uniram o Mundo Islâmico.
Após a batalha do Deluvio de Al-Aqsa, estaremos perante um novo Oriente Médio, com novas equações que estabelecerão um novo equilíbrio de poder, no qual os Estados Unidos não serão a parte mais decisória e Israel será um Estado derrotado. Esta derrota se refletirá internamente com conflitos e mudanças no mapa político interno. Não só isso, mas Israel perderá “suas vitórias” de normalização que construiu em anos e colocou nela suas grandes esperanças. Uma semana decisiva.
Eixo de Resistência é uma referência à uma ampla aliança entre o Hezbollah no Líbano, a Síria, o Iraque, o Iêmen e, apoio explícito do Irã e diplomático da Rússia e China