A União Libanesa da Diáspora é uma Associação Brasileira que agrega líderes e membros da Comunidade Libanesa no Brasil com sede em São Paulo.

Considerado o “pai da Igreja Maronita”, o patriarca Estefan Duwayhi viveu uma existência de fé,ensinamentos e caridade no século 17. Este ano, sua vida e seus feitos chegam mais perto da santidade.

Na sexta-feira, 2 de agosto, aconteceu a grande cerimônia da beatificação oficial do patriarca Estefan Duwayhi (1630-1704), em Bkerke, cidade ao norte de Beirute e sede do Patriarcado Maronita no Líbano. Com missa celebrada pelo cardeal Marcelo Semeraro – representando o papa Francisco – o evento contou com as presenças do patriarca Bechara Rai, do primeiro-ministro Najib Mikati,de inúmeras autoridades religiosas, políticas e de milhares de fiéis. Os aplausos calorosos da multidão se misturaram ao som dos sinos em uma grande manifestação de celebração da fé. Considerado o “pai da Igreja Maronita”, o patriarca Estefan Duwayhi viveu uma existência de fé, ensinamentos e caridade no século 17. Este ano, sua vida e seus feitos chegam mais perto da
santidade .

Na sexta-feira, 2 de agosto, aconteceu a grande cerimônia da beatificação oficial do patriarca Estefan Duwayhi (1630-1704), em kerke, cidade ao norte de Beirute e sede do Patriarcado Maronita no Líbano. Com missa celebrada pelo cardeal Marcelo Semeraro – representando o papa Francisco – o evento contou com as presenças do patriarca Bechara Rai, do primeiro-ministro Najib Mikati,
de inúmeras autoridades religiosas, políticas e de milhares de fiéis. Os aplausos calorosos da multidão se misturaram ao som dos sinos em uma grande manifestação de celebração da fé. O novo beato maronita – e primeiro aprovado pelo papa Francisco – destacou-se em seu tempo pelo espírito erudito e ampla visão de mundo, acreditando na missão maronita, crucial dentro do mundo árabe muçulmano, de se espalhar por toda a região. Sua Santidade aprovou a beatificação em 14 de março deste ano, depois
da autenticação de um milagre atribuído ao venerável patriarca. No dia seguinte à beatificação, foi a vez da celebração de missa em Ehden, local de nascimento do beato Estefan Duwayhi e conhecido retiro de verão da população de Zgharta. A iniciativa para a beatificação partiu do padre Boulos Azzi, responsável pela introdução da causa dos santos na Igreja Maronita. Em 2019 ele apresentou ao Vaticano o dossiê de um milagre de cura atribuído à intercessão do patriarca Duwayhi.

UM FILHO DO SÉCULO 17

Conhecido como “Santo Patriarca”, “Santo dos Patriarcas”, “Pai da História Maronita”, “Pilar da Igreja Maronita”, “Segundo  risóstomo”, “Esplendor da Nação Maronita” e “Glória do Líbano e dos Maronitas”, o beato Estefan Duwayhi nasceu em Ehden, reduto maronita no norte do Líbano, em 1630. Sua data de nascimento, 2 de agosto, coincidiu com o dia da festa de Santo Estêvão (Estefan), o primeiro diácono e o primeiro mártir maronita. A localidade é conhecida pela longa e rica tradição religiosa como berço de três patriarcas, trinta e quatro bispos, inúmeros padres, eremitas, monges e freiras. Era filho de Mariam e do diácono Mikhael
Duwayhi, irmão de Moussa e sobrinho do bispo Elias Duwayhi. Perdeu o pai quando tinha três anos de idade. Dois anos depois, o menino Estefan ingressou na Escola Paroquial de São Pedro, recebendo noções básicas de aritmética, árabe e siríaco, e uma  sólida formação cristã. Distinguiu-se pela inteligência prodigiosa e precoce.

ROMA NO CAMINHO

Reconhecendo a capacidade intelectual, as qualidades religiosas e morais do aluno, o patriarca Gerges Omayra Duwayhi e o bispo Elias Duwayhi, ambos de Ehden, decidiram enviar o garoto para completar os estudos em Roma. Em 1641, com apenas 11 anos de idade, Estefan chegou à Cidade Eterna. Lá, entrou para o Colégio Maronita, fundado em 1584 pelo papa Gregório 13 e dirigido por padres jesuítas. Estefan surpreendeu a todos com sua inteligência superior, profunda compaixão e personalidade marcante. Um dos professores, o padre Sparsa, testemunhou: “Ensinei em muitas terras e em muitas universidades, mas não encontrei ninguém como o Estefan, no brilho da sua mente e na pureza da sua vida”. Por conta do empenho e do esforço nos estudos, o rapaz quase ficou completamente cego. Porém, devido à fé na Virgem Maria recuperou a visão e nunca mais precisou usar óculos.
Aprendeu tudo o que Roma tinha para oferecer a um estudante brilhante. Tornou-se doutor em Filosofia e Teologia e, para além da formação canônica, era fluente em árabe, siríaco, latim, italiano, grego e hebraico. Mais tarde, adquiriu conhecimentos de francês e turco. Em 1655, concluiu a formação intelectual com louvor e sua reputação como intelectual e pensador espalhou-se por toda a Europa. No entanto, recusou todas as propostas tentadoras das grandes universidades e das cortes reais. Preferiu voltar para o Líbano, porém antes passou seis meses pesquisando em todas as bibliotecas romanas, recolhendo documentos raros sobre os
maronitas. Regressou ao seu país em 3 de abril de 1655, depois de viver catorze anos em Roma.

SACERDOTE DUWAYHI

Foi ordenado sacerdote em 25 de março de 1656, pelo patriarca Youhanna, no Mosteiro dos Santos Sarkis e Baco, em Ehden. Em seguida, abriu uma escola gratuita para crianças no Mosteiro de S. Yacoub Al-Ahbach. No ano seguinte foi enviado a Alepo, na Síria, pelo patriarca Gerges Bshebhely, a fim de trabalhar pela unificação dos cristãos e auxiliar seu amigo, o bispo André  gheejan, o primeiro patriarca sírio-católico. Voltou à sua escola, em Ehden, sendo nomeado missionário da Congregação da Propagação da Fé. Nesse mesmo ano de 1657,novamente o patriarca Bshebhely o enviou em missão. Dessa vez para Jeíta, Kasrouan, designado para o ensino da pregação maronita. A seguir se dirigiu para o sul, para Saida e Marjeyoun. Finalmente, foi nomeado pastor de Ardee e das aldeias vizinhas ao norte do país. Em 1662, a pedido do patriarca Bshebhely e da população, voltou a Alepo, onde  passou a ser chamado de “Segundo Crisóstomo”. Por lá permaneceu seis anos. Ao retornar, em 1668, partiu em peregrinação à Terra Santa com a mãe e o irmão.

BISPO DE CHIPRE

Ao regressar da peregrinação recebeu com surpresa a notícia de que havia sido eleito bispo da ilha de Chipre. Recebeu a  ordenação em 8 de julho de 1668 pelo patriarca Gerges Bshebhely. Antes de assumir o novo posto recebeu a incumbência de
visitar e confortar as paróquias de Jebbee, Zawiya e Akkar, no norte libanês. Iniciou a missão em Chipre se estabelecendo em Nicósia, aproveitando para conhecer todas as cidades maronitas da ilha. Pregou a palavra, recolheu documentos e organizou a diocese que permanecera vaga por 34 anos. Teve de retornar brevemente ao Líbano, em 12 de abril de 1670, para o funeral do patriarca Gerges Bshebhely. Pouco mais de um mês depois, Estefan Duwayhi foi ordenado patriarca em Qannubine, a sede
patriarcal da época, no vale Sagrado.

TRINTA E QUATRO ANOS DE PROVAÇÕES

Ele praticamente não teria descanso durante seus 34 anos como patriarca. Por nove vezes se viu obrigado a fugir para Mar Challita
Mekbes, em Ghosta; para Kesrouan; para Majdel Meouch, no Chouf, ou para Jbeil e Batroun devido a perseguições. Tais provações pessoais representaram toda a história e o destino do povo maronita. O patriarca estava sempre em movimento,  escondendo-se em grutas ou outros lugares quase insalubres, carregando consigo notas e documentos, escrevendo até altas horas da noite em condições precárias, e preocupando-se com tudo e todos da Igreja Maronita. Apesar das atribulações, Estefan Duwayhi construiu 27 igrejas e muitos mosteiros, ordenou 14 bispos e vários sacerdotes. Resguardou a Igreja Maronita da latinização e lhe deu uma identidade própria e distinta. Sua atuação foi decisiva na fundação da Ordem Libanesa, na conversão à
fé católica do patriarca melquita Cirilo e na instituição do primeiro patriarca sírio católico. Reorganizou a Igreja Maronita,  reafirmando seus fundamentos com a preciosidade de seus escritos. Apesar dos deslocamentos constantes provocados pela agitação política e social, o patriarca escreveu 30 extensos livros de história e liturgia da Igreja, sem contar suas preciosas análises e a enorme correspondência trocada com papas, reis, cardeais e autoridades civis. Em sua obra constam: “História dos Tempos”, “As origens dos Maronitas”, “A Defesa da Ortodoxia dos Maronitas”, “O Livro das Ordenações”, “A Série dos Patriarcas Maronitas”, “A Lâmpada do Santuário”, “O Livro das Consagrações”, “O Livro das Anáforas”, “O Livro dos Ritos e Bendições”, “O Livro das Melodias Siríacas” e muitos outros. Mesmo em vida o patriarca Estefan Duwayhi era venerado como um santo, sendo atribuídos a ele inúmeros milagres. A causa da sua beatificação, apresentada pela paróquia de Ehden, foi aceita por Roma e tem progredido rumo à santificação.

ISOLAMENTO E HÁBITOS AUSTEROS

Registros de época descrevem o patriarca Duwayhi como um homem de estatura média, testa larga, barba longa, constituição  sólida, nariz aquilino e sobrancelhas bem definidas. Recusou as honras romanas e procurou em vão recusar o episcopado e o patriarcado. Recebia os pobres e os camponeses da mesma forma que recebia grandes líderes. Era um homem de oração, gostava do isolamento em grutas ou em locais ocultos, onde pudesse orar e meditar em paz. Em Qannubine, abriu uma janela em seu quarto para poder observar livremente o Santíssimo Sacramento e o Ícone de Maria na igreja. Seus hábitos eram sóbrios e austeros. Segundo o seu contemporâneo e biógrafo, o bispo Semaan Awad – mais tarde patriarca, de 1742 a 1756 – “Nunca comeu carne durante a sua vida, exceto quando ordenado pelo médico ou por seu diretor espiritual e apenas por razões de saúde”. Possuía todas as qualidades de um verdadeiro cientista da história e da liturgia. Tudo o que ele propunha era baseado em provas e documentos. Em Roma, investigou exaustivamente documentos relativos aos maronitas na Biblioteca e Arquivo do Vaticano, no Colégio Maronita e em outras fontes de informação. No Líbano, Síria e Chipre, visitou quase todas as igrejas, mosteiros e casas maronitas, recolhendo documentos e manuscritos antigos e valiosos. Muitos dos fatos relatados por Duwayhi foram comprovados por descobertas posteriores. O amor pela Igreja Maronita e pelo Líbano sempre foi a viga mestra da sua vida. Visitava quase todas as paróquias, revendo e corrigindo os livros que encontrava, organizando corretamente as administrações ou até mesmo pagando as dívidas. Graças a ele a Igreja Maronita foi dotada de todos os livros litúrgicos necessários para as orações, as consagrações e as bênçãos. Por tudo isso foi justamente chamado de “Pai da Igreja Maronita”. Quanto ao patriotismo, seus livros de história, outros de seus escritos e toda uma vida de provações e sofrimento atestam um autêntico sentimento nacional. A ele devemos o conhecimento de muitos pontos obscuros da história maronita. A morte chegou em 3 de maio de 1704, como ele desejava, na Sé de Qannubine, com o aroma da santidade. Estefan Duwayhi foi um gigante, um gênio, alguém tão acima da média que o mundo  são veria um homem como ele durante séculos. Seu biógrafo, Semaan Awad, disse: “Ele era como uma águia voando acima de todos os pássaros e estava entre os seus pares como o Sol entre as estrelas”. Falava-se de seus milagres, mas sem dúvida, o
maior milagre que alguma vez realizou foi sua vasta obra. Só mesmo uma pessoa inspirada, encorajada e exaltada por uma força maior pode produzir o tesouro gigantesco e enciclopédico que ele deixou para ser admirado pela posteridade.

Fonte: Carta do Líbano – Edição 201

 

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